Charles Forceville e as Metáforas
Nesta postagem, tendo como base Forceville (2016), buscaremos mostrar brevemente um pouco sobre os estudos em metáforas multimodais, apresentando os tipos de metáforas multimodais, exemplificando-os e expondo algumas das considerações e preocupações do autor. Para Forceville (2016), as metáforas, nos últimos anos, têm sido vistas como um fenômeno que governa tanto o pensamento, quanto a linguagem, e por essa razão, as pesquisas em metáforas não verbais tem se concentrado principalmente no papel da gesticulação e dos recursos visuais para a produção de metáforas. ~
Questões contextuais
Lakoff e Johnson (1980) foram os pais da Metáfora Conceitual (TMC), que teve um grande impacto nos estudos orientados pela Linguística Cognitiva (Forceville, ). Para Lakoff e Johnson (1980) o processo de metaforização parte da iniciativa dos seres humanos em tentar relacionar fenômenos abstratos e complexos em fenômenos concretos e corporificados.
Na TMC, há duas vertentes de exploração de manifestações não verbais: a primeira delas diz respeito ao papel que os gestos desempenham na transmissão de metáforas na linguagem falada. Nessa vertente, a ideia central é a de que os gestos desempenham papel de reforço nas metáforas conceituais usadas. Para exemplificar, podemos imaginar uma pessoa invocando a metáfora TEMPO É ESPAÇO acenando em direção à área à sua frente como constituindo o “futuro” (Forceville, 2016). Neste exemplo, a pessoa reforça a metáfora que proferiu usando gestos (acenando); Já a segunda vertente está relacionada às metáforas que envolvem ou consistem em informação visual.
Forceville percebeu que muitas metáforas não são apresentadas em um único modo, mas sim em dois ou mais, simultaneamente.
Neste momento, é importante apresentar os conceitos de metáfora monomodal e multimodal. Tomamos como base Forceville (2006), que conceitua metáfora monomodal como aquela em que o alvo e a fonte são representados exclusiva ou predominantemente em um único modo, e metáfora multimodal como aquela em que o alvo e a fonte são representados exclusiva ou predominantemente em modos diferentes.
De acordo com Forceville (2016), uma metáfora relaciona duas “coisas” que são consideradas como pertencentes a categorias diferentes. Para ele, boas metáforas são aquelas que fornecem novas perspectivas sobre domínio-alvo, ou mesmo impõe uma estrutura onde não havia nenhuma.
Mas, como a metáfora é formada? Bem, a metáfora é composta por duas partes. A primeira parte é o domínio alvo (“literal”, que também já foi chamado de tópico, tenor e assunto principal) e a segunda é o domínio fonte (“ativa”, também conhecida como veículo ou matéria secundária). Para interpretar uma metáfora devemos identificar quais são suas duas partes (alvo e fonte) e ver quais são as características que devem ser mapeadas da fonte para o alvo.
Conforme Forceville (2016), para Forceville (1996), quatro subtipos de metáfora pictórica/ visual foram identificados:
1) Metáfora contextual: um objeto visualmente representado se torna alvo de uma metáfora ao ser retratado em um contexto visual de tal forma que o objeto é apresentado como se fosse outra coisa – a fonte (Forceville, 2016). Veja o exemplo abaixo:
Na imagem acima, temos a cerveja da marca “Brahma” sendo representada como uma majestade, dotada de poder e soberania. Podemos acessar esta informação pelos elementos visuais contextuais, como a coroa e o manto, itens característicos de um rei ou rainha.
2) Metáfora Híbrida: O que é típico deste subtipo é que o alvo e a fonte foram fisicamente integrados. Podemos reconhecer ambos, mas não podemos “separá-los” (Forceville, 2016). Veja o exemplo abaixo:
Na imagem acima, temos a representação do planeta Terra representado como a bola de um sorvete que está derretendo.
3) Símile: Neste subtipo, o alvo é comparado de forma saliente a uma fonte, com a qual se assemelha de uma forma ou de outra. Isso pode ser feito visualmente por vários meios: por exemplo, justapondo alvo e fonte, apresentando-os na mesma forma ou postura, retratando-os com a mesma cor chamativa ou no mesmo estilo (desviante), iluminando-os de forma idêntica... – ou por qualquer combinação destes (Forceville, 2016). Veja o exemplo abaixo:
Nesta imagem, vemos o tablet de chocolates da marca Nestlé sendo visualmente adaptado a ideia de um banco, sendo que alvo e fonte estão justapostos e apresentados na mesma forma.
4) Metáfora verbo-pictórica: há tanto a modalidade verbal, quanto a visual. Tomemos como exemplo a imagem abaixo:
Nesta propaganda, vemos o ketchup da marca “Heinz” sendo comparado com um gênio da lâmpada, aquele que realiza seus pedidos e desejos. Neste exemplo, o leitor precisa de um conhecimento prévio do que é um gênio da lâmpada e quais suas características principais para entender a metáfora. Além disso, a fonte é fornecida pelo contexto visual (cenário e acessórios visualmente apresentados) e reforçada pela parte verbal localizada na parte superior da imagem.
5) Metáforas integradas/de produto: só funciona para objetos tridimensionais. Um produto (o alvo) assume qualidades formais cruciais de algo mais (a fonte), com o objetivo de conferir ao produto características formais e/ou conceituais associadas a essa fonte (Forceville, 2016). Tomemos como exemplo a imagem abaixo:
Neste exemplo retirado de forceville, temos a ideia de que a lâmpada é irmã. Essa representação é feita por meio do objeto principal (lâmpada) e dos objetos secundários (crucifixo).
Os cinco tipos de metáfora apresentados acima constituem categorias de protótipo (Lakoff, 1987). entretanto, como já foi mencionado, na prática, muitas metáforas exibem características pertencentes a mais de um protótipo.
Outras reflexões em Forceville (2016)
Uma reflexão encontrada em Forceville (2016) diz respeito à questão do domínio de origem nas metáforas. Assim sendo, a fonte faz parte do diegese (história ou cenário que se apresenta no momento em que nos é apresentada a metáfora) ou não (o que tornaria extradiegético ou não diegético)? Outra reflexão do autor nos faz perceber a importância do gênero para a construção e interpretação de uma metáfora. Ele também apresenta e diferenciadas metáforas criativas das estruturais (em que vivemos). Falando sobre metáfora monomodal e multimodal, o autor indica que a identificação de cada uma delas pode depender do contexto de acesso, ou do conhecimento prévio do destinatário, se uma determinada metáfora é considerada monomodal ou multimodal.
Nesta postagem, tendo como base Forceville (2016), buscamos mostrar brevemente um pouco sobre os estudos em metáforas multimodais, apresentando os tipos de metáforas multimodais, exemplificando-os e expondo algumas das considerações e preocupações do autor.
Referências
FORCEVILLE, C. Metáfora Pictórica na Publicidade. Londres 1996.
FORCEVILLE, C. Metáfora não verbal e multimodal em uma estrutura cognitivista: Agendas para a pesquisa. In: Gitte Kristiansen, Michel Achard, René Dirven, Francisco Ruiz de Mendoza Ibàñez (orgs.): Linguística Cognitiva: Aplicações Atuais e Perspectivas Futuras. Berlim, 379–402, 2006.
FORCEVILLE, C. Metáfora pictórica e multimodal. In: KLUG, N. M. e STOCKL, H. Manual de linguagem em contexto multimodal [Manual de Linguagem em Contextos Multimodais]. Série Conhecimento Linguístico. Berlim: Mouton de Gruyter, 2016.
LAKOFF, G. Mulheres, Fogo e Coisas Perigosas: O que as Categorias Revelam sobre a Mente. Chicago, 1987.
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