Stuart Hall e a Teoria da Codificação e Decodificação
Introdução
A teoria da recepção é frequentemente atribuída à Stuart Hall, já que ele desenvolveu o modelo de codificação e decodificação em seus estudos. É sobre isso que falaremos neste post.
Stuart Hall nasceu em 1932 em uma família de classe média em Kingston, em Londres. Após se formar na faculdade, ele começou a escrever artigos sobre como as pessoas interagem entre si e com a mídia. Como consequência, ele tornou-se um dos principais teóricos culturais britânicos. Outro ponto importante é que suas produções eram relacionadas a temas como preconceito racial, mídia, teorias sociais e culturais e hegemonia.
Por acreditar que o processo de comunicação era mais complexo do que se imaginava, e com o objetivo de ampliar as ideias que já circulavam na época sobre o tema, Hall, um dos principais proponentes da teoria da recepção de Hans-Robert Juass, criou uma nova abordagem editada: a Teoria da Codificação e Decodificação de Hall. É importante mencionar que Hall se inspirou em ideias já propostas por outros estudiosos, a saber, Umberto Eco, com o termo “decodificação aberrante”, para criar a sua teoria. Ele editou e privilegiou o que já havia sobre o tema e acrescentou outras informações que considerou importantes.
Em seu artigo, Codificação e Decodificação no Discurso Televisivo, Hall tentou estabelecer a relação entre o emissor e o receptor e afirmou que há uma série de etapas que desempenham um papel importante no envio e recebimento de uma mensagem. Durante esse processo, ele acreditava que a audiência desempenhava um papel importante no sucesso da transmissão. Nesse sentido, era possível ao público alterar o significado de uma mensagem para se adequar ao seu contexto social. Além disso, uma ideia pertinente na Teoria de Hall, é o fato de que, para ele, a mensagem codificada pelo autor não é necessariamente a mensagem que será decodificada pelo público.
A Teoria da Codificação e Decodificação de Hall
Na teoria de Hall há dois conceitos-chave: codificação e decodificação. A codificação é o envio de uma mensagem para que outra pessoa possa entendê-la, Também pode ser entendido como o processo no qual a mídia coloca mensagens em um anúncio, por exemplo. Deve haver regras ou símbolos compartilhados, e é importante que o remetente pense em seu público e em como ele interpretará a mensagem. Já a decodificação é definida como a eficácia com que alguém consegue receber e compreender uma mensagem. Também pode ser o processo pelo qual nós, o público, formulamos significado. Para Hall, a decodificação era a parte mais importante do processo.
Para Hall, o processo de comunicação compreende quatro etapas:
1) produção, que é semelhante à codificação de uma mensagem e é importante refletir a sociedade e as premissas do público-alvo;
2) circulação, que é comparável ao envio de uma mensagem, em que a forma como as pessoas percebem ou usam a mensagem é importante e determina o sucesso das próximas etapas;
3) utilização, etapa em que o emissor deve incluir conteúdo ou sinais que evoquem o público a perceber que ele ou ela deve fazer algo com a mensagem que lhe é transmitida, ou seja, utilizar;
4) reprodução, fase que ocorre após o público interpretar uma mensagem e representa a resposta ou reação que ela tem a ela. Esta é a fase em que as pessoas saem e fazem algo ou agem.
Ademais, Hall acreditava que nem sempre o que é codificado por alguém é decodificado da forma como era esperada. Isso porque no processo de decodificação estão envolvidas as crenças, as ideologias e a interpretação própria de quem está decodificando. Nesse ponto, defende a existência de três posições diferentes que se podem assumir ao decodificar uma mensagem televisiva: dominante, negociada e oposicional (Hall et al., 1980).
Na posição de leitura dominante, a mensagem é transmitida com sucesso, e o leitor aceita e compreende a mensagem pretendida pela mídia. Geralmente o receptor compartilha as mesmas ideologias e crenças. Para que isso seja bem-sucedido, a mensagem deve ser clara, e quando isso acontece, é considerado positivo porque a mensagem do produtor foi enviada e recebida com sucesso.
Em posição de leitura negociada, o receptor reage com uma mistura de aceitação e rejeição. Ele entende o texto e não concorda ou discorda totalmente, mas é possível que suas opiniões sejam diferentes em certos pontos. Neste tipo de posição, o receptor entende o que está sendo dito, mas não concorda totalmente e mantém a sua interpretação e ponto de vista. Portanto, ele concorda em algumas partes e discorda em outras.
Já na posição de leitura oposicional, como o próprio nome sugere, há uma ideia de oposição entre o que é codificado pelo emissor e o que é decodificado pelo receptor. Nessa posição, o receptor, apesar de ter entendido o que foi codificado, rejeita completamente as mensagens transmitidas. Além de rejeitar, ele modifica e adiciona seu próprio significado, que geralmente é oposto ao que o remetente pretendia e ao pensamento ou visão dominante.
Conclusão
Com a Teoria de Codificação e Decodificação de Hall, podemos perceber que o processo de comunicação é complexo e envolve vários aspectos, além de ser segmentado em processos que envolvem tanto as intenções de quem envia a mensagem, quanto de quem as recebe, o que sugere que o público não é passivo diante das mensagens que recebe, mas ativo, no sentido de que pode aceitar, rejeitar e modificar o que decodificou de acordo com suas intenções.
Referências
Hall, Stuart. “Codificação/decodificação”. Cultura, mídia, linguagem (1980): 128–138. Doothy Hobson, Andrew Lowe, Paul Willis.
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