A Intertextualidade

    Neste post, tomaremos como base Bazerman (2021) para falar um pouco sobre a intertextualidade. Discutiremos o que ela significa, quais são seus níveis e alguns outros conceitos básicos que permeiam essa discussão. 


O QUE É INTERTEXTUALIDADE? 

Em nossas comunicações cotidianas, estamos sempre consumindo e produzindo textos. Esses textos que produzimos, não raro, são resultados de nossas interações com outros textos. Por mais que busquemos ser originais, “sempre dependemos do repertório linguístico comum que compartilhamos uns com os outros" (Bazerman, 2021, p. 135). É mais ou menos daí surge a noção de intertextualidade: textos que se apoiam em outros textos, mas em uma nova roupagem, ou, conforme Bazerman (2021, p. 136), “a relação que cada texto estabelece com os outros textos à sua volta”. Na análise intertextual são considerados aspectos como a relação entre de um enunciado com outro, o modo como ele foi usado e como ele se posiciona em relação à outros. Essa análise nos ajuda a distinguir as diversas maneiras como os escritores inserem outros personagens em sua história e como eles se posicionam a si mesmos dentro desses mundos de múltiplos textos (Bazerman, 2021). 


ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS

Além do conceito de intertextualidade, Bazerman (2021, p. 142) nos mostra alguns outros que são essenciais para entender esse tema:

  • não selecionada

    Níveis de intertextualidade - 1) O texto pode remeter a textos anteriores como uma fonte de sentidos, usada como valor nominal. Ex.: Numa decisão da Corte Suprema americana, alguns trechos da Constituição dos Estados Unidos podem ser citados e tomados como dados autorizados, mesmo que a aplicação ao caso em questão possa ser contestada; 2) O texto pode remeter a dramas sociais explícitos de textos anteriores mencionados na discussão. Ex.: Ao citar pontos de vista opostos de políticos, do sindicato de professores, de grupos comunitários ativistas e dos relatórios de especialistas acerca de alguma controvérsia recente, ligada aos recursos para educação, um artigo jornalístico retrata um drama social intertextual; 3) O texto também pode explicitamente usar outras declarações como pano de fundo, apoio ou contraposição. Ex.: Alunos citando dados de uma enciclopédia, lançando mão de reportagens jornalísticas para confirmar eventos ou recorrendo a citações de uma obra literária para fundamentar uma redação de texto dissertativo-argumentativo; 4) O texto pode se apoiar em crenças, questões, ideias e declarações amplamente difundidas e familiares aos leitores, quer sejam relacionadas a uma fonte específica, quer sejam percebidas como senso comum; 5) Através do uso de certos tipos reconhecíveis de linguagem, de estilo e de gêneros, cada texto pode evocar mundos sociais particulares onde essa linguagem ou essas formas linguísticas são utilizadas, normalmente com o propósito de identificá-lo como parte daqueles mundos; 6) Através apenas do uso da linguagem e de formas linguísticas, o texto recorre aos recursos linguísticos disponíveis, sem chamar a atenção de modo particular para o intertexto.

  • não selecionada

    Técnicas de representação intertextual - são técnicas que representam as palavras e os enunciados de outros: 1) Citação direta: é normalmente identificada por aspas, pelo adentramento de parágrafo, por caracteres em itálico ou por outro recurso tipográfico destacado das demais palavras do texto. Ex.: Segundo Sócrates, “Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância”, logo, de nada adianta ter acúmulo de informações, quando não se aplica a autocrítica e a reflexão como ferramentas de reconhecimento das potências e limites do nosso conhecimento. (Fonte: Intertextualidade: o que é, tipos, exemplos - Brasil Escola); 2) Citação indireta:  especifica a fonte, procurando a partir daí reproduzir o sentido original, usando, contudo, palavras que reflitam a compreensão do autor, a sua interpretação ou a sua perspectiva diante do texto inicial. Elas filtram o sentido através das palavras e atitudes do segundo autor, permitindo que os significados sejam mais integrados aos seus propósitos; 3) Menção a uma pessoa, documento ou declaração; 4) Comentário ou avaliação acerca de uma declaração, de um texto ou de outra voz evocada; 5) Uso de estilos reconhecíveis, de terminologia associada a determinadas pessoas ou grupo de pessoas, ou de documentos específicos; 6) Uso de linguagem e de formas linguísticas que parecem ecoar certos modos de comunicação, discussões entre outras pessoas e tipos de documentos. 


ALGUNS EXEMPLOS DE INTERTEXTUALIDADE 


Figura 1 - Releitura de “A última ceia”

Fonte: Intertextualidade: o que é, tipos, exemplos - Brasil Escola


Intertexto 1: A última ceia (Leonardo Da Vinci)

Fonte: ARTE - Fonte de Conhecimento: A Última Ceia - Leonardo Da Vinci


Figura 2 - Imagem publicitária Mon Bijou 

Fonte: Texto e intertexto. Texto e intertexto na publicidade e literatura


Intertexto 2: Mona Lisa (Leonardo Da Vinci)

Fonte: Monalisa Art By Leonardo Da Vinci at Leona Ingram blog


PARA CONCLUIR


Vimos que a intertextualidade está além de uma mera menção à textos de outros. Ela se relaciona também à forma como se diz, para que se diz e de que forma as palavras de outros são utilizadas para mobilizar pontos de vista e argumentação. Tendo em vista as várias formas que uma pessoa pode utilizar para estabelecer intertextualidade, há vários tipos de intertextualidade e níveis. 



REFERÊNCIAS 


BAZERMAN, C. Intertextualidade: como os textos se apoiam em outros textos. In: DIONÍSIO, A.; HOFFNAGEL, J. C. (orgs.). Gênero, agência e escrita. 2ª ed. Recife: Pipa Comunicação, Campina Grande: EDUFCG, p. 135-161, 2021.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Stuart Hall e a Teoria da Codificação e Decodificação

A Linguística, suas áreas e sua relação com o cérebro humano

O triângulo retórico e a argumentação